Exercício poético

Teseu

Aquele que de manhã vejo chegar,
cambaleante, exausto, ignóbil,
arquejante, no seu vício pungente,
que em breve (assim parece!)
ser-lhe-á por fim fatal.
Que vazio o seu olhar exprime.
Já não lhe restam forças para lutar
contra o feroz monstro;
ao princípio ainda tentou, mas perdeu-se,
e a luta agora está encerrada.
Se ao menos, como aquela
que nasceu nos confins do tempo
com tantos outros mais,
pudesse eu, ou outrem
ajudar-lhe a escapar…

Marlene Andrade
(Psicologia)

Exercício poético

Canta, ó musa!
Os fios intrincados
do “nada que é tudo”
do silêncio que é som
e do som que é silêncio.
Potência misteriosa,
primordial, intemporal,
para a qual fazer
é um refazer infinito.
O ínfimo impulso primitivo,
a dúvida incessante,
tornando o “era uma vez”
em muitas vezes.
Embebido no pensamento,
metamorfoseado no sentimento,
inflamando as gélidas mentes
tal como Hefesto domina o fogo,
invocando as almas nuas
para a cólera, para o amor!

Longo e imensurável tempo,
que o invisível, visível torna,
que das cinzas de Alexandria
fez multiplicar o “talvez”,
tal como as cabeças de Hidra
serpente marinha de Lerna
cujo respirar era fatal.
E nós, errantes viajantes,
vislumbramos a nossa finitude:
perecíveis, ilusoriamente invencíveis,
quase fragmentos.
Apenas imagens…
Leves sombras…

Poema elaborado em conjunto por:
Marlene Andrade
Soraia Andrade
Verónica Sousa
(Licenciatura em Psicologia)

O fado da vida

Ariadne, sempre desejou dar vida a um ser semelhante, vê-lo crescer, educá-lo para prosperar e vingar. No dia em que recebeu a notícia de que iria conceber um menino, o seu coração disparou, uma quantidade avassaladora de emoções assolou-lhe o coração…é indescritível a sensação, a alegria gerar uma parte de si, a que irá atribuir um amor incondicional. Mas, esta alegria, transcendente a toda a realidade, é acompanhada por um medo constante de falhar, de vacilar…a extrema responsabilidade de oferecer ao mundo uma dádiva de imensurável magnificência e, ao mesmo tempo, de libertá-la para que também ela se transforme num ser capaz de deixar a sua marca, é arrebatadora.
Ariadne guiou Teseu para que ele fosse o pioneiro na história familiar a frequentar um curso superior. Ela idealizava um médico, dando primazia à neurocirurgia. Tudo fez para que a formação do seu filho fosse na área da medicina: durante a infância e a adolescência, os brinquedos, os livros, eram todos relacionados com essa área. Mas, Teseu tinha outro sonho: ser artista…um pintor surrealista….a sensação que o pincel lhe proporcionava era de elevação a um mundo transcendente, onde atingia uma felicidade e realização inacessíveis no mundo físico real.
O dia 08 de Julho de 2006 foi um dia marcante na vida de Teseu e de sua mãe, pois era o dia da inscrição para o concurso ao ensino superior. No dia anterior, Ariadne decidiu encarar o que ignorou até à data: a vontade do filho, no que diz respeito à sua carreira profissional. Ela sabia que havia chegado o momento de cortar o cordão umbilical mental inquebrável, que a ligava a seu filho, apesar de não saber se iria, algum dia, ser capaz de o concretizar. Teseu comunica-lhe que o seu destino é a escola de artes, em Londres e mostra-se irredutível quanto à sua decisão, já há muito planeada. É inimaginável a dor de sua mãe, ao aperceber-se que não iria mais guiar o seu rebento no labirinto vivencial. Teseu estava consciente de que teria de lutar contra os “Minotauros” do mundo das artes, mas o feito de poder exercer o que realmente o apaixonava era superior a todos os obstáculos possíveis e imagináveis….no seu pensamento, a sua força de vontade era invencível.
Uma simples mensagem é aqui proferida – a todos os Teseus: deixem-se guiar, mas não tenham medo de enfrentar os monstros no grande labirinto que é o mundo real; a todas as Ariadnes- ajudem a elucidar na mente dos Teseus o fio condutor da vida, mas não deixem as vossas expectativas causar qualquer tipo de sofrimento e sentimento de perda….encarem a vida tal como ela é e mentalizem-se que a parte de nós com que presenteamos o mundo, deixa de nos pertencer no momento exacto da concretização da oferenda.

Verónica Sousa
(Psicologia)