Identidade (Eduardo Lourenço)

“A identidade europeia é uma identidade simbólica. A identidade europeia é a identidade das diversas culturas, que se reconhecem nos referentes donde a Europa partiu. A nossa referência matricial é a velha Grécia, naturalmente. A essência da Europa é o pensamento grego, e o pensamento grego quer dizer a Filosofia, o pensamento grego quer dizer a Tragédia, a Comédia, o pensamento grego quer dizer a Álgebra, a Matemática. A origem, o núcleo ideal do que nós chamamos Europa está no passado, e de algum modo as revoluções europeias são sempre uma maneira de voltar à origem ou de reescrever a origem.
Um dos filósofos mais importantes do século passado, Heidegger, não fez outra coisa senão pensar que o pensamento mais actual não era o pensamento pós-kantiano, hegeliano, etc., quer dizer, o filho da modernidade europeia, mas sim o mais arcaico pensamento – que já era a ideia de Nietzsche -, o pensamento pré-socrático. A Europa é pré-socrática, é socrática. Depois os romanos apoderaram-se dessa cultura, dessa literatura, e traduzem em romano, e nós dizemos sempre cultura greco-romana, mas cultura greco-romana são duas coisas. Roma é outra coisa que não cultura, e Roma é que é a matriz. Na ordem política, Roma é que foi realmente a primeira Europa. É o modelo em relação à Europa, se se pensa na ordem política, e não há outro modelo para nós.”

Eduardo Lourenço, In Pequena Meditação Europeia